18.10.13

Dá-me as tuas mãos. Dá-me as tuas mãos pois quero sentir as linhas que definem o que nós somos. O que tu és. Tens mãos escuras do carvão. És especial porque desenhas as curvas por onde andas no teu caderninho pequeno de bolso. Vês as minhas? Têm marcas da caneta preta que teme escrever palavras que não deve, mas que sente, e sente muito. Os beijos que deixaste nas minhas mãos traduzem-se pela tua saudade nos teus lábios. Sinto que estás mais próximo de mim mas longe de onde ainda deverias estar. O amor é incrivelmente sentido quando estamos neste ponto. Sinto o teu sorriso em mim. A pele, as rugas e os dedos longos. Não sentes que nas tuas mãos está um mundo por desenhar? Pede as minhas mãos. Tenho saudades dos desenhos nas minhas palmas. Tenho as memórias escritas por baixo da pele, que não vão sair nunca mais. Tenho as memórias desenhadas por baixo da minha pele, que nunca vão sair, nunca mais. Os dedos podem tocar tanto e não dizer nunca de mais ou de menos, sempre o suficiente, não sentes? Pensa por onde é que já viajaste, de olhos fechados, seguindo apenas a linha dos movimentos das tuas mãos. Eu sei a resposta. Ambos sabemo-la. Dás-me as tuas mãos. A minha memória ainda não desapareceu de ti. Estão lá gravados os abraços, as texturas da pele e das camisolas, dos comboios e da relva, da praia. Sabem a sal quando mais tenho saudades tuas, admito. Sabem a sal, ao teu moreno e ao som das ondas a chegarem à praia. O negro mistura-se com flores e perfumes meus, as tuas mãos não conseguem mentir. As palavras que eu deixei, continuam todas lá. É amor, amor, amor. As impressões digitais marcam todos os nossos passos, consegues imaginar as milhões de marcas que já deixaste pelo mundo? Pelo caminho? Por mim? Nas minhas mãos estão as tuas marcas. Dá-me as tuas mãos, porque eu sei que, apesar de tudo, as minhas não desapareceram de ti. E nunca desaparecerão. O nosso amor é imortal. O nosso amor é uma marca, uma marca que está por baixo da nossa pele, nossa. O amor é a nossa marca. A nossa marca é o amor.

1 comentário:

Raseique disse...

Escreves poemas em prosa. Mas isso não lhe tira nenhum sentimento dos muitos que inspiras aqui. Está algo de intenso, mas ao mesmo tempo bastante leve, pois acabamos no mesmo sítio onde começamos. E depois, andas meio mundo em três palavras. E continua a fazer sentido...