29.8.13

Diz-me quantas estrelas apanhamos caídas do céu naquela noite? Gostaria de apaixonar-me por um número e atirá-lo ao céu mas não me consigo lembrar nem decidir pelo mais redondo. Diz-me! Diz-me quantos sorrisos me conseguiste arrancar sentados naquela colina, no meio da palha seca, em pleno mês de Agosto. Tenho saudades daqueles dias em que me levavas contigo e juravas nunca mais me largar. Consegues jurar outra vez? Conseguirias jurar outra vez? Diz-me meu doce Tiago.
Se fechar os olhos consigo sentir as tuas pernas ao lado das minhas. Se fechar os olhos consigo sentir o bater do teu coração nas minhas costas. Se fechar os olhos consigo sentir a tua barba a picar-me o ombro. Tinha um vestido de alças nessa noite e tu adoravas picar-me a pele com a barba do teu queixo que mexia a minha alça e a deixava cair pelo ombro ingenuamente. Eramos tão inocente. Acho que por cada estrela cadente nos nossos braços juramos e pedimos amor eterno. Eramos inocentemente felizes e vivemos cada pedacinho daquela paixão nossa naquele que viria a ser o nosso último verão. As mãos dadas, as mãos entrelaçadas, as mãos nos pescoços e nos troncos e nos corpos. O teu cheiro, a tua pele e o teu sorriso. Invejava-te por serem tão teus, queria que eles fossem meus, tão espelho daquele nosso verão. Desde o primeiro dia que me apaixonei por eles e tu por mim.
Olha, outra estrela cadente! Um beijo teu na curva da minha bochecha e um sorriso tímido meu. Era tua. Sabes que eu sei que foi isso que desejaste numa daquelas infinitas estrelas que passaram sobre o nosso céu naquela nossa noite. Para sempre ser tua. Sempre. Tua. Tiago.

(Frank Ocean - Strawberry Swing)

25.8.13

Desceu as escadas da calçada toda apressada, com um trança mal arranjada e um vestido às flores amarelas. O barulho das sandálias a descerem a rua era apressado e parecia-me ver os seus olhos a brilhar, com uma prenda por dentro reservada. Segui-a com toda a curiosidade, à espera que ninguém matasse a gata da vizinha, refrescando-me com todo aquele amor juvenil. Quando olhei para o outro lado da rua, lá estava ele. Alto, moreno de olhos claros, com um largo sorriso nos lábios. Nas suas mãos trazia uma flor, simples, mas que combinava com o seu vestido e a sua trança. Ela parou à frente dele e delicadamente foi-lhe colocada a flor sobre o cabelo. Ela retribui-lhe com um beijo, o doce beijo prometido pelos olhos que desceram a rua e procuraram-no em cada sombra em cada parede. Ai - ouço-me a suspirar. Como é tão bom estes amores de verão e desta juventude. Olho para eles e só consigo pensar em nós. Pensar nas vezes que ia ter contigo na esquina daquele café da rua que ficava virado para o sol. Naquela janela ficava tantas vezes à tua ou tu à minha espera. Também tu me prometias flores e eu levava-te beijos guardados nas minhas mãos. Beijávamos com as mãos, com os olhos, com as palavras, com os braços a envolver-nos, com os lábios. E era rico de se ver, era amor genuíno, de jovem ingénuo e apaixonado. Agora eles vão-se embora, abraçados pela calçada. Agora não são só as sandálias dela que anunciam o noivado. Ouço também os sorrisos e as passadas conjugadas. Lá vão eles pela calçada. Lá vão os doces apaixonados.

(Luísa Sobral - Quando te vi)

17.8.13

12.8.13

Coloquei duas colheres de açúcar no chá. Era chá de limão e ainda estava quente, por isso esperei que ele arrefecesse. Dou-me conta que sou assim, constantemente, a toda a hora!, que espero e não faço mais nada a não ser esperar. Espero pelo comboio chegar, pela hora certa, por ti, pelas tuas palavras, por este chá. Nada mais sei fazer. Vivo por entre estas palavras que te escrevo, de café em café, entre os acordes de outros homens que eu ignorei, só para por ti esperar.
Fico sentada nesta cadeira, a soprar sobre este chá, a ver as pessoas a passarem lá fora, em busca de algo, ativas, enquanto eu espero. Se as coisas fossem tão lineares, tu estarias a caminho, pois saíste do autocarro do outro lado da rua e agora estás a olhar para a estrada, de um lado e do outro, através dos óculos antigos do teu pai. Pretos, vintage, pouco sentimentais para ele. Estou a imaginar-te a vires no teu ritmo, não muito apressado nem muito vago, com a mão no bolso das calças, a outra liberta, a pensares em mim. Vejo-te do outro lado do vidro do café. Estás a sorrir e eu só me apetece abraçar-te mas espero que entres e me beijes. Mas, na realidade, continuo a esperar e tu nunca mais chegas. O sol torna a rua dourada, chamativa, que me aquece a alma que tu traíste por maldade. Não, a culpa não é tua, por continuar aqui, loucamente apaixonada por ti e a esperar.
Mas por mim? Estarás tu a esperar por mim? Se calhar continuas pelas ruas, a rascunhá-las no teu caderno de capa preta e a sonhar comigo nelas. Se calhar esperas que apanhe o avião e te abrace por trás e ponhas os meus braços à volta do teu pescoço. Tenho a certeza que não tiraste ainda o cheiro a carvão dos teus dedos. Sei que eles te fazem lembrar de mim. Se calhar estás à minha espera.
Se calhar... Mas eu continuo por cá, pela cadeira do café, à espera que este chá perca o calor, tal como este meu coração arrefeça e todo o meu amor se vá, como o fumo deste chá de limão.

9.8.13

Converti-me religiosamente ao som da chegada do mar. Ouço-o de olhos fechados, nesse vai e vem, repetido, sádico, que me faz sentir que estou encostada à tua camisola salgada à tua espera, desejosa por te beijar, por beijar a tua pele doce de mar e areia. Lembro-me das vezes que me levavas à praia, religiosos momentos nossos. Ficávamos a ver o sol a bater nas ondas. Ficávamos a contar grãos de areia, e pensaríamos nós que os contaríamos todos, e quando esse dia chegasse, saberia quão grande era o teu amor por mim. O tamanho do meu já sabias, e sabia a mar, esse mar que chegavas a abraçar pelas ondas, durante esse teu desporto favorito. E ficava a ver-te a deslizar sobre ele. Não me importava de ficar a ver-te a tarde toda, a manhã toda ou o dia todo. Nunca me importei nem me importava mas deixaste que eu me importasse.
Sinto a espuma a molhar-me os dedos dos pés. Muito discretamente ela vem, muito tímida, e vai. Quando sente-se mais solta, chega a molhar-me o pé todo. Mas parece arrepender-se de ter tocado tão longe e volta a chegar-se, aos poucos, tímida, vezes e vezes. Tu não eras assim. Tu chegavas do mar, desapertavas o fato e deitavas-te sobre mim, deixavas-me sentir a tua pele salgada cheia de amor e sal. Acabavas sempre por ter um tom dourado teu, o ano todo, e o cheiro a carvão das tuas mãos fundia-se com o sal do resto do teu corpo. E eu ficava ali, por baixo de ti, por baixo do teu peito ofegante, a sentir o teu amor quente e salgado, só meu.
O mar chama-me sempre, diz-me sempre para tu voltares, para te chamar. Afinal não era só eu a tua sereia apaixonada. Deixaste no mar uma saudade de ti, das tuas mãos grande e da tua pele. Mas tu não voltas. Nunca voltaste. Deixaste-me só, à tua espera, nessa praia onde barco nenhum mais pode atracar. Deixaste-me como mulher à espera do seu pescador, depois de uma longa tempestade atravessada. Nunca mais veio a paz e o mar nunca mais te avistou.
Assim, o mar fala-me sempre de ti. Afaga-me as lágrimas no meio do seu sal e diz-me que um dia sempre voltarás. É isso que eu ouço nas ondas do mar. É por isso que elas batem na minha praia. Batem, mas dizem nunca poderem ficar.