27.12.18

Meu Tiago,
Estive a rever os textos que fui deixando neste pedaço de mim que criei quando, na adolescência, a sede da incompreensão infantil e necessidade de sobressair nasceram. Tu sabes (nós sabemos!,) que foste criado em tempos de primeiros (des)amores. A minha alma de pessoa calma e (agora) desculpada (ambos sabemos que este termo não está aqui no sentido literal, mas com os seus dois significados, que são tão próprios de mim) sabe que esse primeiro amor foi necessário, tal como todos os outros que sucederam na cadeia da vida. Sabes que eu não acredito no destino, contudo acredito que as coisas acontecem sempre com algum motivo. Não no sentido lato de terem de acontecer porque estava predestinado e era necessário para o nosso crescimento. Não. Não só nesse sentido. Mas no sentido simples de que quando algo acontece, temos o dever de crescer e de aprender. Mudar é outra coisa. Apesar de parecer que crescer e aprender significam sempre mudar, e eu não sei se concordo completamente com essa afirmação. Voltando ao início, o que eu te quero dizer é que, no meio de todos estes textos, li uma frase muito bonita. Queres relê-la também? 
«Estar é sermos infinitos em alguém. Tu és infinito em mim. Criei-te com sede de amor e deixei-te ficar quando tive a minha primeira desilusão. Quando descobri que o amor é mais vezes mágoa do que alegria. (Apesar de acreditar que esta frase é errada, vou deixá-la aqui porque é bonita.) Estar é sermos bonitos na vida de alguém. Tornaste a minha vida mais bonita.Tornaste a minha vida mais bonita. Literaria e imaginariamente mais bonita. (...) Estar na vida de alguém é algo raro e único, que devíamos estimar. (...) Quando alguém nos permite estar, nos deixa entrar e ficar numa parte do coração delas, é algo raro e único. E isso é amor. Estás em mim desde há muito tempo. Isso é amor. Tu sempre foste amor.» 
Não achas bonito? Eu acho que estava muito inspirada quando assim te escrevi. Mas falando sobre a particularidade d'o amor ser mais vezes mágoa do que alegria, sei que estou diferente quando consigo perceber a veracidade nesta frase não totalmente verdadeira. Viste-me entrar no mesmo jogo, vezes e vezes, nestes últimos anos. Sofreste com isso e mesmo assim aceitaste-me, com todo o teu sentimento e amor, com todo o teu corpo e amor. Abraçaste-me, lambeste-me as feridas, ajudaste-me a perdoar e a entender que há sempre mais amor dentro de nós. Ajudaste-me a preencher o vazio que ficou sempre depois da desilusão e do desespero e da mágoa. (Quero deixar este trocadilho mental aqui, para me lembrar dele: és Tiago de Tempo.) Só o amor cura o desamor. Mas não é outro amor. É o amor. Só o amor preenche o vazio com crescimento, calma e sede. Sede de mundo, sede de aventura, sede de fé. Só o amor. Tudo isto porque lembrei-me que talvez a razão de ficar sempre com o bom, naturalmente, mesmo após a tempestade, é porque a vida é demasiado finita para nos preocuparmos com as más memórias. Aprendemos, crescemos, podemos ou não mudar, mas depois devemos ficar com as boas memórias, aquelas que muitas vezes fazem demorar mais um pouco o sentimento desvanecer. Sou uma pessoa que fica com muito carinho. Ficar com mágoa não faz de todo parte de mim. E isso eu nunca vou querer mudar.

(Quero deixar bem claro, a título pessoal e para melhor entendimento, que «o amor» não se refere ao amor da nossa vida, mas sim a nós mesmos. Nem eu nem o Tiago acreditamos na figura romântica do único príncipe, do único cavaleiro, do único amado. É algo muito mais infinito, tal como o mar ou o céu estrelado à noite, estão a ver? Existem paixões e existem amores e existem desamores, e isto é a vida. Ou pelo menos a minha e a do Tiago. Isto sou eu e somos nós.)
Jorja Smith - Let me love you (cover)

26.12.18

Há muito que te quero escrever, mas não sei como começar. Começo por pensar em ti, no teu rosto, no teu sorriso, nas tuas expressões, mas não consigo definir o que te quero dizer nem como te quero dizer isto. Sinto saudades de te escrever, de esvaziar a minha mente e de lavar-me das velhas emoções. Não quero esquecer-me, não é isso. Só acho que este velho processo me ajuda a crescer e a pensar na vida, nas pessoas, nos afetos e nos sonhos. (E até porque acho que tu és inesquecível e até mesmo insubstituível.) Foste desenhado com traços demasiados familiares para me despedir para sempre de ti. O carvão da lapiseira deixou uma marca na minha pele, pequena mas tua. Esvaziar-me em ti ajuda-me nesta procura insaciável de mim mesma, ajuda-me a discernir sobre a vida, as pessoas, os afetos e os sonhos. Quando reparo demasiado nas expressões, nas cores, nas palavras, às vezes torna-se cansativo segurar em todos estes pensamentos. E às vezes quero esquecer-me de todos eles, mas menos de ti. És um dos processos mais bonitos do meu crescimento. Deixa-te estar aqui, comigo. Lava-me das angústias e das mágoas e dá-me amor, como sempre deste. 
E este para sempre tem (já) uma década. Desde a tua barba castanha, aos teus olhos meios verdes; desde o teu sorriso atrevido, às tuas expressões corporais meigas; desde a tua boca salgada, às tuas mãos molhadas; desde os teus desenhos, aos teus passeios; desde o que é teu até ti; desde o que é meu e te criou a ti. 

Cherry Wine - Hozier