27.10.13

As tuas lágrimas deixaram de saber a sal de tanto chorares à janela. As noites escureceram e as estrelas esconderam-se por trás das nuvens negras, para não te ouvirem mais. O teu choro agonia quem passa pela tua rua e a prostitutas já não se encontram com os amantes por baixo da tua janela. Não dormes com dores no peito. Com um coração amargurado como o teu, quem dormiria? Nas alegrias e tristezas medem-se as consequências dos nossos amores. Tu medes os teus por baixo dos lençóis e na janela à noite, depois de fecharem a porta e acenderem o cigarro pela rua. Magoa-me ver que a tua própria mágoa já te consumiu por dentro. A vida fecha-nos sempre a porta quando sonhámos alto de mais. Caíste e ninguém te abriu a janela. As paredes ficaram negras por tanta lágrima escorrer pelas rugas. A tua água já não lava a alma de ninguém, nem a tua voz, nem o teu corpo. Já não lavas a alma de ninguém com o teu choro. E tudo é passado. Não há novos futuros depois de secares as tuas lágrimas, ou se há, ninguém o vê. O poço que se forma é fundo. A noite parece não acabar com a minha insónia e o teu choro. O teu choro parece não desparecer com a noite. As tuas lágrimas não têm sal e já ninguém passa pela tua janela sequer para te consolar. Já ninguém passa. Nem as prostitutas. E Lisboa morre no teu chorar. E a noite acaba por se afogar.

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