9.7.22

 Ainda me lembro das primeiras palavras que te escrevi. Ainda me lembro do sentimento que tinha em mim quando te vi pela primeira vez. E hoje imagino-te tal e qual como nesse dia, como se passasses pela rua por mim naquela primeira vez. Gostava de te agarrar na mão e trazer-te para a minha vida, mas sinto que não consigo. Sinto-me perdida num mar gigante que outrora soubemos nadar. Sinto-me a afundar dentro da minha própria água, no meu próprio corpo. Sinto-me perdida pelas estradas que já fizemos, sem saber se é por aqui que devo ir. Se me perguntares como é que estou, dir-te-ei que "bem", que "vou indo", que temos que andar para a frente. E se eu respondesse o que eu realmente sinto? Ou seja, que me sinto perdida e nem sei para onde estou a caminhar. Nem bem, nem mal, simplesmente perdida, confusa e a ficar assustada. Já me conheces, pois já me viste assim. Retificando, já me sentiste assim. Por isso é que gostava de te voltar a ver para te agarrar a mão, para me agarrares, para segurares em mim. Crescemos juntos, mas sinto falta de ti (mim). Porque para a frente nem sempre é caminho. Porque não saber para onde vou não é melhor que andar às voltas. Porque estar parada pode ser melhor que andar. Porque estares comigo, isso sei que sim, é sempre o melhor para mim.

Olá Solidão - Os Quatro e Meia

9.4.22

Continuo a pensar em ti. Continuo a sonhar contigo. Continuo a passear contigo de mão dada pelas ruas na nossa imaginação. Já há muito tempo que não sentia a tua mão quente na minha fria. Já há muito que não sentia a tua barba na minha cara rosada e salgada. Já há muito tempo que não acordávamos de madrugada para tu apanhares aquela onda. Dei por mim a reviver este sonho, vezes e vezes sem conta, como se nunca tivéssemos deixado de existir, como se nunca tivéssemos deixado de caminhar lado a lado. E já lá vai  tempo que escolhemos não ficar presos a este sonho eterno. Mas dei por mim a pensar em ti, como se nunca o tivesse deixado de fazer. Dei por mim a imaginar-te como sempre imaginei: com o teu braço cruzado por cima de mim, com o teu cheiro preso em mim, com os teus sonhos em mim. Afinal encontrei o fio que achava para sempre perdido, que me permitiu reencontrar-te nos meus sonhos. Cada sabor da tua boca, cada toque da tua mão, cada pulsar do teu coração, ainda estão presentes como se nunca te tivesses ido embora. Perdoa-me. Como se eu nunca me tivesse ido embora. Porque fui eu que te deixei agarrado a um fio que, sem querer, fingi cortar. Porque fui eu que escolhi caminhar sozinha, por entre as nossas ruas, fingindo serem mais minhas do que nossas. Porque fui eu que escolhi deixar-te ali, fechado num livro, preso à minha adolescência eterna. Mas o que é para sempre nosso, não nos deixa, não é? E fazes sempre questão de voltar, de pegar em mim e abraçar-me, como se nunca nos tivéssemos abandonado um ao outro. E isso é tão preciosamente nosso, tão meu, por entre cada dedo que te toque, que te pinta e que te deseja. Continua a pensar em mim, continuar a regressar por entre os meus sonhos e continua a caminhar ao meu lado, nas ruas da nossa imaginação, meu Tiago.

Bon Iver - album i,i