1.6.17

(Há coisas na nossa vida que por vezes deixam de fazer sentido. Crescemos, mudamos objetivos, perspetivas, criamos medos e insistimos em tapar-nos deles. Achamos ser esta coisa nova, mudada, crescida, e, sim, repito estas palavras, porque creio serem elas que nos cegam o pensamento. Pelo menos foi o que me aconteceu a mim.)

Eu desisti de mim antes de tu desistires de nós. E hoje os meus pés sentiram a calçada com a ingenuidade velha que me enchia mais que o peito, transbordava da minha alma. Hoje caminhei num sentido que há muito deixara de o ser e que se perdeu entretanto nesta vida desorganizada que se transformou a minha. Ficou assim, como estas palavras: sem sal, sem mar, sem ti. Sem ti vivi eu estes últimos meses? anos, não sei. E sem ti viveste tu, porque julgaste ter-te abandonado. Mas o que aconteceu foi que eu abandonei-me a mim mesma: abandonei a inocência, a fé nua e virgem, a ânsia e a sede, e deixei que algo mais fútil, banal, adulto? se apoderasse desta minha mente. Ora, fui deixando-me vencer pelos meus medos e pelas minhas angústias e, ainda mais, por este sentimento de inércia e desorganização. Tu sabes o quão organizada eu era dentro da minha desorganização. Eu sabia onde estavas tu, o sol e o mar. Sabia onde estava o sal que dava sabor à minha terra. Há muito que deixei de ver nascer um fruto carnudo e doce dela.
Hoje senti o sol a bater-me no rosto; senti o vento a acariciar-me as bochechas; fechei os olhos; pensei em mim. Não tinha papel e caneta e enquanto olhava para as sombras e sentia o sol e o vento a bater nas folhas, pensava em mim. E sentia o sal na minha boca. E senti. Sabes o que isso significa? Se não pensarmos muito, já sinto os meus pés na areia e o teu beijo de sal na minha boca. Se não pensarmos muito, sinto a velha ingenuidade minha, tua, nossa. Não penses muito...


Rooting for you - London Grammar