Gostava que vissem o nosso céu daqui, meu amor. Gostava que
vissem as nossas estrelas, neste céu azul escuro, carregado de silêncio e paz.
Gostava que sentissem esta paz, e este silêncio, nesta escuridão que nos penetra
e nos sussurra ao ouvido um nevoeiro de emoções e de frio, mas ao mesmo tempo
tão quente, tão aconchegante, tão nosso. Agora que vejo o céu, não te vejo mais
meu amor. O frio passa-me a alma e toca as cicatrizes que tu deixaste. E eu
sinto-me bem, debaixo deste céu azul escuro, com as estrelas que iluminam o
mundo. Eu preciso deste silêncio, deste escuro, para me encontrar a mim.
Preciso deste espaço que por momentos achei que estava em ti e que iria brilhar
verdadeiramente. Mas tu não fizeste mais do que escurecer-me, ofegar-me com a
tua luz, com essa tua luz que brilha menos que este céu escuro e que magoa mais
que este silêncio frio. Debaixo deste céu azul escuro. Como gostava que visses este
céu azul e estas estrelas, meu... . Desculpa, nunca me pertenceste. Mas eu dei-me
sem perguntas, sem questionar, sem pensar. Principalmente sem pensar.
Entreguei-me onde não havia amor, mas sim fome. Entreguei-me onde não havia
compaixão, mas sim egoísmo. E sobretudo entreguei-me a um espaço que, se eu o
deixasse, a raiva e o rancor iriam ficar. E foi isso que eu te deixei. Mas o
que eu deixei preenchido, tornou-se um vazio em mim. E esse vazio em mim magoar-me-á muito mais, gelar-me-á muito mais. Não gostava que o sentisses. Não gostava que
ninguém, algum dia, se sentisse assim. Mas gostava que sentissem este frio, debaixo
deste céu azul. Tu não. A quem não me traz paz, também não quero que me veja debaixo
deste céu azul. Debaixo das minhas estrelas. Debaixo das estrelas do mundo.
Onde, no silêncio, recupero mais um pouco de mim. Onde recupero mais um pouco
do que ingenuamente deixei. Neste lugar onde, ingenuamente, sei que pertenço.
A tua carta despedida J.
(Big Picture - London Grammar)