10.10.15

Lembro-me de a ver parada na rua. Lembro-me de a ver parada mas à espera de algo, de alguém. Lembro-me dos seus olhos assustados e com sede de algo, de alguém. Lembro-me muito bem como se a estivesse a ver agora, pela janela, do outro lado da rua, do outro lado do café, do outro lado de mim. O vestido preto e o casaco bege; os lábios vermelhos e os olhos castanhos. Lembro-me do cruzar e descruzar dos braços e de a ver olhar a rua vezes e vezes sem conta, à espera de algo, à espera de alguém. Lembro-me da espera, da longa espera. Parecia que o tempo tinha parado e que dali não ia sair mais. "Pobre apaixonada", pensei eu. À espera por quem sempre esperou, como quem espera pelo que sempre achou de valor esperar e por quem sempre o coração bateu ao esperar. Acho que imaginei o que ela estava pensar, e acho que a ansiedade transformou-se em mim e acho que pensei que era eu que estava lá. Lembro-me de parar e sentir o vazio que o meu coração sentiu a partir daquele momento e saber que era afinal eu que tinha parado à tua espera. A ironia de ser eu a pobre apaixonada e de deixar que o amor goze comigo. E eu deixo. A espera pelo sorriso e pelo abraço de quem nunca valorizou o simples acto de sorrir e de abraçar. A espera pelas palavras simples e pelas simples mãos dadas, na rua mais simples cidade, com a noite a cair sobre as pedras do nosso caminho. Do meu caminho. Lembro-me que me apeteceu levantar, sair do café e dizer-lhe para parar de esperar. A espera mata-nos por dentro e engole-nos num vazio pelo qual nunca valerá a pena esperar. E o amor não é um vazio.Muito menos uma espera. Mas não o fiz, porque lembro-me o que ela sentiu para decidir virar as costas à rua e deixar de esperar. Ela encerrou a espera. E eu dou por encerrada a minha. E este vazio. E este amor que só eu senti.