27.10.13

As tuas lágrimas deixaram de saber a sal de tanto chorares à janela. As noites escureceram e as estrelas esconderam-se por trás das nuvens negras, para não te ouvirem mais. O teu choro agonia quem passa pela tua rua e a prostitutas já não se encontram com os amantes por baixo da tua janela. Não dormes com dores no peito. Com um coração amargurado como o teu, quem dormiria? Nas alegrias e tristezas medem-se as consequências dos nossos amores. Tu medes os teus por baixo dos lençóis e na janela à noite, depois de fecharem a porta e acenderem o cigarro pela rua. Magoa-me ver que a tua própria mágoa já te consumiu por dentro. A vida fecha-nos sempre a porta quando sonhámos alto de mais. Caíste e ninguém te abriu a janela. As paredes ficaram negras por tanta lágrima escorrer pelas rugas. A tua água já não lava a alma de ninguém, nem a tua voz, nem o teu corpo. Já não lavas a alma de ninguém com o teu choro. E tudo é passado. Não há novos futuros depois de secares as tuas lágrimas, ou se há, ninguém o vê. O poço que se forma é fundo. A noite parece não acabar com a minha insónia e o teu choro. O teu choro parece não desparecer com a noite. As tuas lágrimas não têm sal e já ninguém passa pela tua janela sequer para te consolar. Já ninguém passa. Nem as prostitutas. E Lisboa morre no teu chorar. E a noite acaba por se afogar.

18.10.13

Dá-me as tuas mãos. Dá-me as tuas mãos pois quero sentir as linhas que definem o que nós somos. O que tu és. Tens mãos escuras do carvão. És especial porque desenhas as curvas por onde andas no teu caderninho pequeno de bolso. Vês as minhas? Têm marcas da caneta preta que teme escrever palavras que não deve, mas que sente, e sente muito. Os beijos que deixaste nas minhas mãos traduzem-se pela tua saudade nos teus lábios. Sinto que estás mais próximo de mim mas longe de onde ainda deverias estar. O amor é incrivelmente sentido quando estamos neste ponto. Sinto o teu sorriso em mim. A pele, as rugas e os dedos longos. Não sentes que nas tuas mãos está um mundo por desenhar? Pede as minhas mãos. Tenho saudades dos desenhos nas minhas palmas. Tenho as memórias escritas por baixo da pele, que não vão sair nunca mais. Tenho as memórias desenhadas por baixo da minha pele, que nunca vão sair, nunca mais. Os dedos podem tocar tanto e não dizer nunca de mais ou de menos, sempre o suficiente, não sentes? Pensa por onde é que já viajaste, de olhos fechados, seguindo apenas a linha dos movimentos das tuas mãos. Eu sei a resposta. Ambos sabemo-la. Dás-me as tuas mãos. A minha memória ainda não desapareceu de ti. Estão lá gravados os abraços, as texturas da pele e das camisolas, dos comboios e da relva, da praia. Sabem a sal quando mais tenho saudades tuas, admito. Sabem a sal, ao teu moreno e ao som das ondas a chegarem à praia. O negro mistura-se com flores e perfumes meus, as tuas mãos não conseguem mentir. As palavras que eu deixei, continuam todas lá. É amor, amor, amor. As impressões digitais marcam todos os nossos passos, consegues imaginar as milhões de marcas que já deixaste pelo mundo? Pelo caminho? Por mim? Nas minhas mãos estão as tuas marcas. Dá-me as tuas mãos, porque eu sei que, apesar de tudo, as minhas não desapareceram de ti. E nunca desaparecerão. O nosso amor é imortal. O nosso amor é uma marca, uma marca que está por baixo da nossa pele, nossa. O amor é a nossa marca. A nossa marca é o amor.

15.10.13

Não consigo definir o que sinto mais por ti. Deixaste marcas graves em mim e apaga-las só faria com que eu não me sentisse mais eu. Faria com que eu me perdesse mais do que já me sinto sem ti. Faria com que o que me define mais deixasse de o definir e eu deixasse de ser eu. Fazes-me falta. Nos dias e nas horas que o tempo me trás sem ti e acaba por levar sem repostas novas.
Perco tempo eu pensar em ti, mas parece que nada daquilo que eu faça trás-me de volta o amor puro e generoso que era o nosso. Por muito que tente criar novas formas de te encontrar em mim e volte a escrever novos enredos, tu apareces e depareces, como se fosse normal eu amar-te dias sim e dias não. E eu não quero amar-te dias sim e dias não. Quero amar-te sempre, meu amor. 
Trás-me flores de novo. Entra pela porta e trás-me flores novas todos os dias novos. Flores amarelas, vermelhas, laranjas, túlipas. Despe o casaco enquanto ainda os meus dedos tocam a tua pele e te beijam. Despe-o outra vez e outra vez. Diz-me que me adoras de novo, todos os dias, como se fosse sempre a primeira vez. Sinto falta do carvão a sujar-te os bolsos e a pintar o meu coração. Desenharias sempre mais e mais novos contornos à volta da nossa história, como se fosse infinita, não desenharias? Leva-me a novos sítios, a novas praias, em novos dias, durante as nossas vidas. Sê para mim o velho Tiago sempre que os dias forem novos. 
É na esperança de cada novo amanhecer que te espero Tiago. Todos os dias. Uns dias amando-te mais e noutros dias menos. Alguns dias não te amando de todo. No entanto, os novos dias parecem surgir sempre com um novo amor, um novo amor que é sempre velho, o meu amor por ti.
Deixa-me ser novamente para sempre,
Da sempre tua.