25.4.14

Lembro-me do cheiro a queimado. Era um cheiro forte, impossível de conseguir ser inalado sem reação. Lembro-me de sentir a impossibilidade de descrever qualquer face de dor ou angústia que senti, e não apensas vi, naquele lugar. Senti a maior dor que já há muito não sentia. Senti o céu a cair por cima de nós, sem justificação para alguém merecê-lo ou pedi-lo. Era pó o que via sobre o preto. Era vermelho o que via sobre o chão, e sobre o pó, e sobre o preto, e sobre os olhos. O que pensamos só nos nossos corações e pensamento ficam. Cada um sabe de si e toda a gente imagina que sabe de toda a gente. Mas inevitavelmente não. Era imundo o que se via naquele lugar e sentíamos revolta e angústia por nada fazer e por nada mudar! As mãos querem fazer mas ninguém deixa, ninguém permite, ninguém e nada muda... Nada muda agora. Agora é só viver o que ninguém quer viver. Deixar passar o que o tempo tão cedo não ou nunca irá curar. Queria dar um pedaço de mim para ser diferente. Tão novos, tão apaixonados pela causa, tão revoltante.

23 de Abril de 2014

15.4.14

Quero encontrar-te.
Quero encontrar-te e poder fechar-me dentro de ti, para nunca mais de ti separar-me.
Dá-me ar. Fura o meu pescoço, para que os meus lábios só sirvam para te beijar.
Oh doce licor de amor que transborda da tua língua e me afoga em desejo e vício. É o que tu és.
Vive para me ver respirar. Perde-te em mim. Faz-me gritar. O meu mundo é teu e por ti não deixa de girar. Só por ti.
Rasgo-te a pele e deixo-te em carne viva enquanto me mordes a pele e me amarras ao teu peito. Só te sei sentir a ti. Só sei sentir a tua música. O teu medo. Na minha cabeça mora o medo de me perder em ti e nunca mais a luz do dia encontrar. Na escuridão do vício não quero morrer. O meu coração abafa-me a voz da razão e mata-me as aos poucos com a loucura do teu nome. Fazes-me parar de respirar. O desespero é tanto que me sinto a arranhar a garganta para encontrar uma entrada para viver. Os meus lábios recusam-se a abrir, só para beber dos teus lábios o que mais quero saborear.
E vivo assim. Presa por um fio condutor ao motor que dispara sempre que te vejo. As palpitações são paralisantes. Sinto-me a parar.
Quero encontrar-te. Matar-te aos poucos como me fazes sempre que me dás a provar do teu veneno. Quero rasgar a tua pele, deixar-te em carne viva, escravizar as tuas veias e asfixiar-te no momento em que disparas de prazer contra mim, contra a parede onde me atiras contra. Se pudesses ler a minha mente era isto que encontrarias. Ódio por tanto de amar. Quero deixar-te sem ar. Gritos de prazer e dor, é sangue o que o meu amor transborda. O teu sangue louco a ferver de amor. Louco. Quero encontrar-te. Louca.

(Um completo estado de loucura que cresce na minha mente e escreve quando tem poder.)

13.4.14

Quando desci as escadas para ir ter contigo, já lá estavas encostado à parede, a trocar pedrinhas que estavam no meio da calçada. Deste conta dos meus passos apressados, estava atrasada outra vez, a saltarem pela rua, para contigo ir ter. O café era o mesmo, mas o ponto de encontro era diferente. Dava-te mais jeito, a mim também, o sol era o mesmo e o calor da tarde abraçava-nos aos dois. Sempre sentimos as coisas de forma diferente e única e talvez seja por causa disso que nos adaptamos sempre da mesma forma. Os sentimentos nunca se alteram e as zangas permanecem sobre as mesmas pedras. Os beijos repetem-se depois das zangas e as desculpas sucedem-se depois do amor. Fizemo-lo ontem, hoje e amanhã havemos de o fazer. O vestido era leve e acompanhava os meus movimentos. Os teus olhos trocaram o chão pela minha figura e esboçaste um sorriso, como se fosse a primeira vez e estivéssemos naquele café, embora agora sozinhos, escondidos no meio das ruas. Beijei-te o canto da boca, tu a minha face, num beijo entregue a mim, como se tu me pertencesses assim. Devo dizer que foi difícil perceber que era a sério, de novo, desta vez. Mas também não me importei, e resolvi fazer o que não tinha dito e viver-te outra vez. Vais e vens, mais vale aproveitar enquanto estás. O céu também não é azul todos os dias. Não há gelado todos os dias e come-se rapidamente enquanto não derrete nas mãos. As tuas mãos estão sempre sujas de carvão. O meu vestido já tem a marca do carvão gravado nas ancas. Mais vale aproveitar, sim. Amanhã já cá não estás, amanhã já não tenho carvão e amor sobre o qual escrever, amanhã já não me amas tu e amanhã já não nos amamos mais. Mas amanhã também não importa.

4.4.14

Já não te via há algum tempo, não é? Senti-me tão longe de ti. Não sei caracterizar este sentimento de bom ou mau, apenas sei que foi longa a noite. Conversar nunca foi o nosso forte. Acho que poderíamos ter ficado a noite a falar, sentados no sofá de cá de casa. Contares-me-ia como tem sido a faculdade, os últimos projectos e o início dos trabalhos e dos mercados. Estás um senhor. Deixaste crescer o bigode. Os beijos foram longos e custosos, porque o amor e a saudade agora magoam quando voltas sempre no meu coração a entrar. As tuas mãos tinham tinta, marcaste-me como nunca tinhas antes marcados. Os beijos longos na cama, as mãos dadas e as peles frias encostadas. Desabotoei-te cada botão da camisola, senti cada botão nos meus dedos, como se nunca mais contigo fosse estar. Senti as lágrimas a correrem-me na garganta, enquanto as tuas mãos tocavam nas minhas costas e me beijavas os ombros. Acho que nunca te amei tanto de forma tão magoada como nesta noite. Entreguei-me sempre a ti, sem nenhum arrependimento, mas desta vez não me quis mais magoar. As marcas são sempre grandes, as últimas cicatrizes nunca sararam e ficar a esperar por ti, depois de sempre o último suposto adeus, é extenuante. O nosso amor cansa-me. O nosso amor marca-me e deixa-me exausta. Quero amar-te sem nenhum limite, mas os limites fariam de nós o amor eterno que eu preciso, sem feridas por sarar. Quero-te que queiras-me como eu te quero a ti. E poderia esperar por ti a sonhar quando irias chegar. As esperas no café, as mãos a taparem os olhos e as surpresas. Quero voltar à nossa rotina do amor, sem limites de horas ou de amor ou de cama. Quero ser tua como sempre tu quiseste. Vais voltar? Daqui a quanto tempo? Diz-me. Mesmo se a ferida não sarar, eu faço-a não ter significado. Eu faço o amor não viver. Eu faço-o. Eu faço-o sem ti. 

No Sound But the Wind - The Editors