22.11.13

A luz entra pelo nosso quarto como se fosse primavera. Ela veste a nossa pele de calor e amor e eu agacho-me mais ao teu lado. Os teus braços nunca me pareceram tão algodão e neve ao mesmo tempo e esta sensação de carinho penetra-me no meu sangue. A luz amarela no teu rosto ilumina a minha noção de amor, dá-me paz e faz-me querer nunca mais te largar... É um sonho estares aqui junto a mim, outra vez, um sonho do qual é eu não quero mais acordar. A tua barba é o reflexo mais lógico neste momento que me poderia fazer acordar, mas mesmo assim não o faz, porque és tu. E estás aqui! E abraças-me como se nunca tivesses deixado de o fazer e a nossa história tivesse sempre continuado, nunca fazendo pausas no meio das discussões. E a pergunta foi simplesmente: "Estás de volta?" E as respostas tuas poderiam ser lógicas e nada sinceras, como "sim" e "foi uma experiência da qual nunca mais me vou esquecer", mas não. Foste muito mais espontâneo e sincero e amor. As mãos dadas e os sorrisos, como se fosse de novo setembro e de novo noite e de novo nós. "Não me largues mais que eu prometo-te o mundo". Eu só quero o teu mundo Tiago.

14.11.13

Se visse os olhares que trocamos, parecia um verdadeiro filme de amor, em que nós eramos as personagens principais. Amor era o que os teus lábios queriam ao querer os meus e os nossos olhos não conseguiam resistir-nos. As tuas mãos estavam na minha anca e os teus dedos amarrotavam a minha camisola devagar, arrepiando a minha pele. Tinhas as mãos frias, mas eu não me importava. As tuas mãos frias combinavam com as minhas borboletas na barriga. Sentia sempre um aperto, e tu sabias que o meu medo era maior que o nosso amor. Perder-me em ti nunca soava bem visto na terceira pessoa. O amor troca-nos a mente e a linha por onde nos deixámos conduzir. Mas tu agarravas-me e eu não conseguia dizer que não. O meu corpo seguia o teu, as minhas mãos seguiam os traços do teu rosto, sentiam os pequenos pelos de barba por fazer e de rebeldia e preguiça de noites de trabalho em carvão. Não me davas espaço, tinha de ser tua no teu espaço, caber em ti, caber no teu amor. Preenchia a tua vida e tu as minhas palavras. Sempre que te agarrava na camisola era um pretexto para tu a tirares. Os espasmos dos teus músculos era grandes quando arrepiados ficavam da minha temperatura. Consegui ser sempre mais fria que tu. Não fazia sentido ser ao contrário. Aliás eras tu quem me protegia dos meus medos e me libertava de todo o amor que me prendia a ti. As tuas mãos grandes a desenharem o que já não havia mais para definir em mim. As curvas ao longo de um corpo que desejava-te a ti apaixonadamente. Os meus beijos. Os teus beijos. Amor puro e nu debaixo das folhas que caiem neste Outono. Os teus braços amarram-me, prendem-me e juram amar-me para sempre. Os meus braços, perdidos de amor, prendem-se aos teus e acreditam que nunca mais os largarás. O meu amor era teu. As minhas palavras eram tuas. E continuo-te a escrever sempre, com todo o meu amor. Com todo o teu amor. Volta com ele e devolve-mo por favor. Debaixo das folhas só resto eu, sem saber onde devo saber mais. Volta, sem ti ou com ti, mas volta com o meu amor.

27.10.13

As tuas lágrimas deixaram de saber a sal de tanto chorares à janela. As noites escureceram e as estrelas esconderam-se por trás das nuvens negras, para não te ouvirem mais. O teu choro agonia quem passa pela tua rua e a prostitutas já não se encontram com os amantes por baixo da tua janela. Não dormes com dores no peito. Com um coração amargurado como o teu, quem dormiria? Nas alegrias e tristezas medem-se as consequências dos nossos amores. Tu medes os teus por baixo dos lençóis e na janela à noite, depois de fecharem a porta e acenderem o cigarro pela rua. Magoa-me ver que a tua própria mágoa já te consumiu por dentro. A vida fecha-nos sempre a porta quando sonhámos alto de mais. Caíste e ninguém te abriu a janela. As paredes ficaram negras por tanta lágrima escorrer pelas rugas. A tua água já não lava a alma de ninguém, nem a tua voz, nem o teu corpo. Já não lavas a alma de ninguém com o teu choro. E tudo é passado. Não há novos futuros depois de secares as tuas lágrimas, ou se há, ninguém o vê. O poço que se forma é fundo. A noite parece não acabar com a minha insónia e o teu choro. O teu choro parece não desparecer com a noite. As tuas lágrimas não têm sal e já ninguém passa pela tua janela sequer para te consolar. Já ninguém passa. Nem as prostitutas. E Lisboa morre no teu chorar. E a noite acaba por se afogar.

18.10.13

Dá-me as tuas mãos. Dá-me as tuas mãos pois quero sentir as linhas que definem o que nós somos. O que tu és. Tens mãos escuras do carvão. És especial porque desenhas as curvas por onde andas no teu caderninho pequeno de bolso. Vês as minhas? Têm marcas da caneta preta que teme escrever palavras que não deve, mas que sente, e sente muito. Os beijos que deixaste nas minhas mãos traduzem-se pela tua saudade nos teus lábios. Sinto que estás mais próximo de mim mas longe de onde ainda deverias estar. O amor é incrivelmente sentido quando estamos neste ponto. Sinto o teu sorriso em mim. A pele, as rugas e os dedos longos. Não sentes que nas tuas mãos está um mundo por desenhar? Pede as minhas mãos. Tenho saudades dos desenhos nas minhas palmas. Tenho as memórias escritas por baixo da pele, que não vão sair nunca mais. Tenho as memórias desenhadas por baixo da minha pele, que nunca vão sair, nunca mais. Os dedos podem tocar tanto e não dizer nunca de mais ou de menos, sempre o suficiente, não sentes? Pensa por onde é que já viajaste, de olhos fechados, seguindo apenas a linha dos movimentos das tuas mãos. Eu sei a resposta. Ambos sabemo-la. Dás-me as tuas mãos. A minha memória ainda não desapareceu de ti. Estão lá gravados os abraços, as texturas da pele e das camisolas, dos comboios e da relva, da praia. Sabem a sal quando mais tenho saudades tuas, admito. Sabem a sal, ao teu moreno e ao som das ondas a chegarem à praia. O negro mistura-se com flores e perfumes meus, as tuas mãos não conseguem mentir. As palavras que eu deixei, continuam todas lá. É amor, amor, amor. As impressões digitais marcam todos os nossos passos, consegues imaginar as milhões de marcas que já deixaste pelo mundo? Pelo caminho? Por mim? Nas minhas mãos estão as tuas marcas. Dá-me as tuas mãos, porque eu sei que, apesar de tudo, as minhas não desapareceram de ti. E nunca desaparecerão. O nosso amor é imortal. O nosso amor é uma marca, uma marca que está por baixo da nossa pele, nossa. O amor é a nossa marca. A nossa marca é o amor.

15.10.13

Não consigo definir o que sinto mais por ti. Deixaste marcas graves em mim e apaga-las só faria com que eu não me sentisse mais eu. Faria com que eu me perdesse mais do que já me sinto sem ti. Faria com que o que me define mais deixasse de o definir e eu deixasse de ser eu. Fazes-me falta. Nos dias e nas horas que o tempo me trás sem ti e acaba por levar sem repostas novas.
Perco tempo eu pensar em ti, mas parece que nada daquilo que eu faça trás-me de volta o amor puro e generoso que era o nosso. Por muito que tente criar novas formas de te encontrar em mim e volte a escrever novos enredos, tu apareces e depareces, como se fosse normal eu amar-te dias sim e dias não. E eu não quero amar-te dias sim e dias não. Quero amar-te sempre, meu amor. 
Trás-me flores de novo. Entra pela porta e trás-me flores novas todos os dias novos. Flores amarelas, vermelhas, laranjas, túlipas. Despe o casaco enquanto ainda os meus dedos tocam a tua pele e te beijam. Despe-o outra vez e outra vez. Diz-me que me adoras de novo, todos os dias, como se fosse sempre a primeira vez. Sinto falta do carvão a sujar-te os bolsos e a pintar o meu coração. Desenharias sempre mais e mais novos contornos à volta da nossa história, como se fosse infinita, não desenharias? Leva-me a novos sítios, a novas praias, em novos dias, durante as nossas vidas. Sê para mim o velho Tiago sempre que os dias forem novos. 
É na esperança de cada novo amanhecer que te espero Tiago. Todos os dias. Uns dias amando-te mais e noutros dias menos. Alguns dias não te amando de todo. No entanto, os novos dias parecem surgir sempre com um novo amor, um novo amor que é sempre velho, o meu amor por ti.
Deixa-me ser novamente para sempre,
Da sempre tua.

29.8.13

Diz-me quantas estrelas apanhamos caídas do céu naquela noite? Gostaria de apaixonar-me por um número e atirá-lo ao céu mas não me consigo lembrar nem decidir pelo mais redondo. Diz-me! Diz-me quantos sorrisos me conseguiste arrancar sentados naquela colina, no meio da palha seca, em pleno mês de Agosto. Tenho saudades daqueles dias em que me levavas contigo e juravas nunca mais me largar. Consegues jurar outra vez? Conseguirias jurar outra vez? Diz-me meu doce Tiago.
Se fechar os olhos consigo sentir as tuas pernas ao lado das minhas. Se fechar os olhos consigo sentir o bater do teu coração nas minhas costas. Se fechar os olhos consigo sentir a tua barba a picar-me o ombro. Tinha um vestido de alças nessa noite e tu adoravas picar-me a pele com a barba do teu queixo que mexia a minha alça e a deixava cair pelo ombro ingenuamente. Eramos tão inocente. Acho que por cada estrela cadente nos nossos braços juramos e pedimos amor eterno. Eramos inocentemente felizes e vivemos cada pedacinho daquela paixão nossa naquele que viria a ser o nosso último verão. As mãos dadas, as mãos entrelaçadas, as mãos nos pescoços e nos troncos e nos corpos. O teu cheiro, a tua pele e o teu sorriso. Invejava-te por serem tão teus, queria que eles fossem meus, tão espelho daquele nosso verão. Desde o primeiro dia que me apaixonei por eles e tu por mim.
Olha, outra estrela cadente! Um beijo teu na curva da minha bochecha e um sorriso tímido meu. Era tua. Sabes que eu sei que foi isso que desejaste numa daquelas infinitas estrelas que passaram sobre o nosso céu naquela nossa noite. Para sempre ser tua. Sempre. Tua. Tiago.

(Frank Ocean - Strawberry Swing)

25.8.13

Desceu as escadas da calçada toda apressada, com um trança mal arranjada e um vestido às flores amarelas. O barulho das sandálias a descerem a rua era apressado e parecia-me ver os seus olhos a brilhar, com uma prenda por dentro reservada. Segui-a com toda a curiosidade, à espera que ninguém matasse a gata da vizinha, refrescando-me com todo aquele amor juvenil. Quando olhei para o outro lado da rua, lá estava ele. Alto, moreno de olhos claros, com um largo sorriso nos lábios. Nas suas mãos trazia uma flor, simples, mas que combinava com o seu vestido e a sua trança. Ela parou à frente dele e delicadamente foi-lhe colocada a flor sobre o cabelo. Ela retribui-lhe com um beijo, o doce beijo prometido pelos olhos que desceram a rua e procuraram-no em cada sombra em cada parede. Ai - ouço-me a suspirar. Como é tão bom estes amores de verão e desta juventude. Olho para eles e só consigo pensar em nós. Pensar nas vezes que ia ter contigo na esquina daquele café da rua que ficava virado para o sol. Naquela janela ficava tantas vezes à tua ou tu à minha espera. Também tu me prometias flores e eu levava-te beijos guardados nas minhas mãos. Beijávamos com as mãos, com os olhos, com as palavras, com os braços a envolver-nos, com os lábios. E era rico de se ver, era amor genuíno, de jovem ingénuo e apaixonado. Agora eles vão-se embora, abraçados pela calçada. Agora não são só as sandálias dela que anunciam o noivado. Ouço também os sorrisos e as passadas conjugadas. Lá vão eles pela calçada. Lá vão os doces apaixonados.

(Luísa Sobral - Quando te vi)

17.8.13

12.8.13

Coloquei duas colheres de açúcar no chá. Era chá de limão e ainda estava quente, por isso esperei que ele arrefecesse. Dou-me conta que sou assim, constantemente, a toda a hora!, que espero e não faço mais nada a não ser esperar. Espero pelo comboio chegar, pela hora certa, por ti, pelas tuas palavras, por este chá. Nada mais sei fazer. Vivo por entre estas palavras que te escrevo, de café em café, entre os acordes de outros homens que eu ignorei, só para por ti esperar.
Fico sentada nesta cadeira, a soprar sobre este chá, a ver as pessoas a passarem lá fora, em busca de algo, ativas, enquanto eu espero. Se as coisas fossem tão lineares, tu estarias a caminho, pois saíste do autocarro do outro lado da rua e agora estás a olhar para a estrada, de um lado e do outro, através dos óculos antigos do teu pai. Pretos, vintage, pouco sentimentais para ele. Estou a imaginar-te a vires no teu ritmo, não muito apressado nem muito vago, com a mão no bolso das calças, a outra liberta, a pensares em mim. Vejo-te do outro lado do vidro do café. Estás a sorrir e eu só me apetece abraçar-te mas espero que entres e me beijes. Mas, na realidade, continuo a esperar e tu nunca mais chegas. O sol torna a rua dourada, chamativa, que me aquece a alma que tu traíste por maldade. Não, a culpa não é tua, por continuar aqui, loucamente apaixonada por ti e a esperar.
Mas por mim? Estarás tu a esperar por mim? Se calhar continuas pelas ruas, a rascunhá-las no teu caderno de capa preta e a sonhar comigo nelas. Se calhar esperas que apanhe o avião e te abrace por trás e ponhas os meus braços à volta do teu pescoço. Tenho a certeza que não tiraste ainda o cheiro a carvão dos teus dedos. Sei que eles te fazem lembrar de mim. Se calhar estás à minha espera.
Se calhar... Mas eu continuo por cá, pela cadeira do café, à espera que este chá perca o calor, tal como este meu coração arrefeça e todo o meu amor se vá, como o fumo deste chá de limão.

9.8.13

Converti-me religiosamente ao som da chegada do mar. Ouço-o de olhos fechados, nesse vai e vem, repetido, sádico, que me faz sentir que estou encostada à tua camisola salgada à tua espera, desejosa por te beijar, por beijar a tua pele doce de mar e areia. Lembro-me das vezes que me levavas à praia, religiosos momentos nossos. Ficávamos a ver o sol a bater nas ondas. Ficávamos a contar grãos de areia, e pensaríamos nós que os contaríamos todos, e quando esse dia chegasse, saberia quão grande era o teu amor por mim. O tamanho do meu já sabias, e sabia a mar, esse mar que chegavas a abraçar pelas ondas, durante esse teu desporto favorito. E ficava a ver-te a deslizar sobre ele. Não me importava de ficar a ver-te a tarde toda, a manhã toda ou o dia todo. Nunca me importei nem me importava mas deixaste que eu me importasse.
Sinto a espuma a molhar-me os dedos dos pés. Muito discretamente ela vem, muito tímida, e vai. Quando sente-se mais solta, chega a molhar-me o pé todo. Mas parece arrepender-se de ter tocado tão longe e volta a chegar-se, aos poucos, tímida, vezes e vezes. Tu não eras assim. Tu chegavas do mar, desapertavas o fato e deitavas-te sobre mim, deixavas-me sentir a tua pele salgada cheia de amor e sal. Acabavas sempre por ter um tom dourado teu, o ano todo, e o cheiro a carvão das tuas mãos fundia-se com o sal do resto do teu corpo. E eu ficava ali, por baixo de ti, por baixo do teu peito ofegante, a sentir o teu amor quente e salgado, só meu.
O mar chama-me sempre, diz-me sempre para tu voltares, para te chamar. Afinal não era só eu a tua sereia apaixonada. Deixaste no mar uma saudade de ti, das tuas mãos grande e da tua pele. Mas tu não voltas. Nunca voltaste. Deixaste-me só, à tua espera, nessa praia onde barco nenhum mais pode atracar. Deixaste-me como mulher à espera do seu pescador, depois de uma longa tempestade atravessada. Nunca mais veio a paz e o mar nunca mais te avistou.
Assim, o mar fala-me sempre de ti. Afaga-me as lágrimas no meio do seu sal e diz-me que um dia sempre voltarás. É isso que eu ouço nas ondas do mar. É por isso que elas batem na minha praia. Batem, mas dizem nunca poderem ficar.

28.6.13

Pegadas na areia. Só consigo pensar em pegadas na areia. Desenhadas na areia molhada e suavemente apagadas pela espuma salgada, vezes e vezes sem conta. Não consigo pensar em mais nada. Pegadas na areia, na areia molhada, onde nos deitamos e deixamos estar, à espera de ser levados pela espuma. Eu gostava de ser levada pela espuma, pela espuma salgada e fresca, para longe de mim mesma. Já me sinto a flutuar nesse mar salgado e azul, que reflete o céu que me cobre os sonhos e as mágoas. Pegadas na areia e estrelas no céu. São a melhor combinação deste verão que chama por mim e insiste em me levar para longe, para longe de mim mesma. E eu assim o desejo. Tal como desejo neste momento desenhar pegadas minhas na areia molhada, e voltar a desenhá-las, outra vez e outra vez, até elas nunca mais se apagarem. Vejo ao longe o areal castanho, irregular, tal como a pele das nossas mãos. Vejo do outro lado a linha do infinito que insiste em separar o mar do céu, que nasceram para ficar juntos para sempre, tal como as pegadas insistem em ficar na areia, mas o mar não as deixa marcar. E é o sabor salgado na nossa pele ao fim do dia que amámos. O sabor salgado e o moreno na cara e o cheiro a protetor que é pouco mas que fica sempre e é o cheiro a sol e a areia e a mar e a salgado. E é o sabor a salgado nos lábios e nos beijos que fica quando as pegadas na areia não conseguem marcar.

31.5.13

Nunca escrevi como nos conhecemos.
Nunca escrevi como nos conhecemos, pois não? Na verdade, acho que se torna difícil voltar àquele dia, àquelas pessoas, àquele momento. Nunca falamos muito sobre isso, pois não? Curiosamente, não. Lembro-me de passar por ali, de te ver e de sorrires. Sim, tu sorriste-me. Também disseste que viste muito mais do que eu te mostrei e por isso me sorriste. Não sei se isso foi conversa de circunstância, eu estava tão rendida ao teu perfume que mergulhei nos teus olhos sem tu sequer reparares. E no teu sorriso. No momento em que dei por mim, estava sobre o som da tua voz, quente e amarga, como sempre esteve ao longo de todos estes dias e meses e anos. Vieste ter comigo sem me conheceres e eu ofereci-me para continuares ali ao meu lado, para não voltares para junto dos teus amigos e para não me largares nunca mais. Mas o nunca mais não existe, não existiu para ti nem para nós. Mas para mim era a sério. Mas para mim era para sempre nunca mais.
Quem ficou com o quê? Não sei. Às vezes acho que lembrar-me da cor do céu e das nossas sombras é mais importante do que quem deu o primeiro passo. Viste o que mais ninguém em mim viu e ninguém vê. Aquela pequena miúda apaixonada por um grande miúdo. Sem pedires, dei-te tudo, em troca de nada, e o nada restou. É justo. O que reparei logo em ti? A tua descontração e concentração em mim, como se já não restassem mais palavras nem apresentações. No teu nome. Tiago. Tiago-giro. Acreditas que foi o nome que elas te puseram? Tiago-personagem-amor-namorado. Esse foi o que eu te pûs.
E às vezes penso que eras real de mais. Mas outras vezes, deixavas-me ser de menos. As tardes, as mãos dadas, as músicas juntos, as fotografias (eu sei que as tens todas e nem uma guardaste para mim), o meu amor... Levaste-me tudo. E acho que é por isso que não consigo escrever-te mais. Mentira. E acho que é por isso que não nos imagino mais juntos. Minto. E acho que é por isso que não consigo escrever-te mais ou escrever-nos mais ou escrever-te sobre nós mais.
Nunca escrevi como nos conhecemos. Naquele bar. Naquela praia. Naquele ínico de primavera. Naquele amor à primeira vista. Naquele nosso grande amor. Nunca. Minto. Hoje escrevi sobre como nos conhecemos.