31.5.13

Nunca escrevi como nos conhecemos.
Nunca escrevi como nos conhecemos, pois não? Na verdade, acho que se torna difícil voltar àquele dia, àquelas pessoas, àquele momento. Nunca falamos muito sobre isso, pois não? Curiosamente, não. Lembro-me de passar por ali, de te ver e de sorrires. Sim, tu sorriste-me. Também disseste que viste muito mais do que eu te mostrei e por isso me sorriste. Não sei se isso foi conversa de circunstância, eu estava tão rendida ao teu perfume que mergulhei nos teus olhos sem tu sequer reparares. E no teu sorriso. No momento em que dei por mim, estava sobre o som da tua voz, quente e amarga, como sempre esteve ao longo de todos estes dias e meses e anos. Vieste ter comigo sem me conheceres e eu ofereci-me para continuares ali ao meu lado, para não voltares para junto dos teus amigos e para não me largares nunca mais. Mas o nunca mais não existe, não existiu para ti nem para nós. Mas para mim era a sério. Mas para mim era para sempre nunca mais.
Quem ficou com o quê? Não sei. Às vezes acho que lembrar-me da cor do céu e das nossas sombras é mais importante do que quem deu o primeiro passo. Viste o que mais ninguém em mim viu e ninguém vê. Aquela pequena miúda apaixonada por um grande miúdo. Sem pedires, dei-te tudo, em troca de nada, e o nada restou. É justo. O que reparei logo em ti? A tua descontração e concentração em mim, como se já não restassem mais palavras nem apresentações. No teu nome. Tiago. Tiago-giro. Acreditas que foi o nome que elas te puseram? Tiago-personagem-amor-namorado. Esse foi o que eu te pûs.
E às vezes penso que eras real de mais. Mas outras vezes, deixavas-me ser de menos. As tardes, as mãos dadas, as músicas juntos, as fotografias (eu sei que as tens todas e nem uma guardaste para mim), o meu amor... Levaste-me tudo. E acho que é por isso que não consigo escrever-te mais. Mentira. E acho que é por isso que não nos imagino mais juntos. Minto. E acho que é por isso que não consigo escrever-te mais ou escrever-nos mais ou escrever-te sobre nós mais.
Nunca escrevi como nos conhecemos. Naquele bar. Naquela praia. Naquele ínico de primavera. Naquele amor à primeira vista. Naquele nosso grande amor. Nunca. Minto. Hoje escrevi sobre como nos conhecemos.