12.8.13

Coloquei duas colheres de açúcar no chá. Era chá de limão e ainda estava quente, por isso esperei que ele arrefecesse. Dou-me conta que sou assim, constantemente, a toda a hora!, que espero e não faço mais nada a não ser esperar. Espero pelo comboio chegar, pela hora certa, por ti, pelas tuas palavras, por este chá. Nada mais sei fazer. Vivo por entre estas palavras que te escrevo, de café em café, entre os acordes de outros homens que eu ignorei, só para por ti esperar.
Fico sentada nesta cadeira, a soprar sobre este chá, a ver as pessoas a passarem lá fora, em busca de algo, ativas, enquanto eu espero. Se as coisas fossem tão lineares, tu estarias a caminho, pois saíste do autocarro do outro lado da rua e agora estás a olhar para a estrada, de um lado e do outro, através dos óculos antigos do teu pai. Pretos, vintage, pouco sentimentais para ele. Estou a imaginar-te a vires no teu ritmo, não muito apressado nem muito vago, com a mão no bolso das calças, a outra liberta, a pensares em mim. Vejo-te do outro lado do vidro do café. Estás a sorrir e eu só me apetece abraçar-te mas espero que entres e me beijes. Mas, na realidade, continuo a esperar e tu nunca mais chegas. O sol torna a rua dourada, chamativa, que me aquece a alma que tu traíste por maldade. Não, a culpa não é tua, por continuar aqui, loucamente apaixonada por ti e a esperar.
Mas por mim? Estarás tu a esperar por mim? Se calhar continuas pelas ruas, a rascunhá-las no teu caderno de capa preta e a sonhar comigo nelas. Se calhar esperas que apanhe o avião e te abrace por trás e ponhas os meus braços à volta do teu pescoço. Tenho a certeza que não tiraste ainda o cheiro a carvão dos teus dedos. Sei que eles te fazem lembrar de mim. Se calhar estás à minha espera.
Se calhar... Mas eu continuo por cá, pela cadeira do café, à espera que este chá perca o calor, tal como este meu coração arrefeça e todo o meu amor se vá, como o fumo deste chá de limão.

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