25.8.13

Desceu as escadas da calçada toda apressada, com um trança mal arranjada e um vestido às flores amarelas. O barulho das sandálias a descerem a rua era apressado e parecia-me ver os seus olhos a brilhar, com uma prenda por dentro reservada. Segui-a com toda a curiosidade, à espera que ninguém matasse a gata da vizinha, refrescando-me com todo aquele amor juvenil. Quando olhei para o outro lado da rua, lá estava ele. Alto, moreno de olhos claros, com um largo sorriso nos lábios. Nas suas mãos trazia uma flor, simples, mas que combinava com o seu vestido e a sua trança. Ela parou à frente dele e delicadamente foi-lhe colocada a flor sobre o cabelo. Ela retribui-lhe com um beijo, o doce beijo prometido pelos olhos que desceram a rua e procuraram-no em cada sombra em cada parede. Ai - ouço-me a suspirar. Como é tão bom estes amores de verão e desta juventude. Olho para eles e só consigo pensar em nós. Pensar nas vezes que ia ter contigo na esquina daquele café da rua que ficava virado para o sol. Naquela janela ficava tantas vezes à tua ou tu à minha espera. Também tu me prometias flores e eu levava-te beijos guardados nas minhas mãos. Beijávamos com as mãos, com os olhos, com as palavras, com os braços a envolver-nos, com os lábios. E era rico de se ver, era amor genuíno, de jovem ingénuo e apaixonado. Agora eles vão-se embora, abraçados pela calçada. Agora não são só as sandálias dela que anunciam o noivado. Ouço também os sorrisos e as passadas conjugadas. Lá vão eles pela calçada. Lá vão os doces apaixonados.

(Luísa Sobral - Quando te vi)

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